sexta-feira, setembro 24, 2010

Não mais

Desceu as escadas rapidamente. Estava atrasada. O embrulho no estômago não a deixava esquecer dos estragos que havia deixado para trás; objetos quebrados e sentimenstos devastados. Os pensamentos, ainda confusos, dificultavam-lhe o entendimento do que de fato acontecerá.

Sabia apenas da insistente sensação de não mais...

quarta-feira, setembro 22, 2010

A menina que guardava estrela

Pensou em colocá-la na boca para que iluminasse-lhe o verbo.
Nos cabelos, para que se destacasse entre a multidão.
Pensou. Pensou. Sentiu um vento gelado e lembrou que seu cachorro ficara pra fora de casa.

Guardou a estrela no bolso esquerdo do casaco e seguiu para casa.

terça-feira, setembro 14, 2010

Lua em escorpião

Desde o começo soube do perigo.
Sentia-se livre, confortável, como se já se conhecessem há muito tempo. 
Uma vontade de ficar sem nem mesmo saber porquê.
"Perigoso, de fato muito perigoso", pensava. 
 
Tentou, como pode, desvencilhar-se.
Experimentou outras bocas. Bebeu outras conversas. Cheirou outras peles. Deixou-se ficar em outros olhares e sorrisos.
Mas sempre voltava.
 
E quando lá estava, lutava contra a sensação de se deixar estar;
irritada, devora as manhãs ensolaradas, rasgava os lençóis da intimidade.
Desconfiava. Enxergava em tudo uma bruma negra. Sorvia essa realidade envenada.
Via traição onde a comunicação falhava. Ouvia o outro pensar o que ela mesma criara e fazia disso verdade inquestionável.
Gritava. Ofendia. Partia...
 
Até que, vencida,  voltou. Dessa vez para saborear as manhãs, dormir nos lençóis,  estar onde os momentos estavam.
  

segunda-feira, setembro 06, 2010

Palavras sussurradas

Levantaria da cama, tentando não fazer barulho. Queria sair sem ser vista.
Fugia daquela possibilidade que a vida lhe oferecia.
Como poderia esquecer o que passara? Como abandonar velhos fanstasmas? Como entregar-se novamente?
Desconfiava das armadilhas do dia-a-dia.  Não suportava a idéia de ter um compromisso. Doiam-lhe ainda as feridas de seu último amor.
Olhou, num último momento antes de levantar, as marcas naturais daquele pescoço. Pensou que poderia saber-las todas. Mas não, o convivio levaria para longe a sensação de arrebatamento que a possuía sempre que sua boca tocava aquela outra. Se tivesse ao menos a certeza de que a realidade dos dias não lhe roubaria as palavras sussurradas ao seu ouvido...!