sábado, fevereiro 27, 2010

À PORTA DA SUA CASA

Distante. Inacessível. Enigmática.
Entre caminhadas noites a dentro,
copos e risadas nas mesas de bar,
palavras ríspidas, carinhos quase roubados,
desejos inflamados, corpos esmaecidos,
expectativas vencidas...
Assim, aos poucos, com o passar das horas,
foi abrindo a porta.
Me olha, despindo-se  da personagem que até então encarnava.
E eu, ali parada,
na frente da porta da sua casa!

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

SONHOS

Oniricamente rearranjo meus espaços internos...
Minhas prateleiras de cremes e vaidades,
Meus potes de medos pelo tempo que avança,
Minhas roupas antigas, que já não vestem o que sou...
E tecidos de palavras esquecidas que ainda tecem a trama do meu discurso.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

COMO ESTÃO AS COISAS

Aconchegada em você, vi o dia amanhecer...
senti uma suavidade na sua pele e beijo que jamais imaginei,
para em seguida relembrar no seu olhar a fúria do seu, ou seria do nosso desejo?
Mesmo eu, não sei como descrever o que se passa... Mas se passa! E eu não deixo que passe em vão... Sei dos riscos, do abismos... Mas eu quero o que faço... quero correr o risco de ser livre, quero experimentar o gosto do não pertencer (e teu gosto me agrada tanto!!!), quero rir da minha falta de ciúme, quero conter o ímpeto da paixão...  
Vou encher a casa de flores, se não forem vermelhas que sejam alaranjadas pelo menos...


"se você passar daquela porta você vai ver como estão as coisas... não leve a mal se eu pedir para cortar os grilos... descanse um pouco, amanheça aqui comigo..."


SAUDADE DO TEMPO EM QUE TE AMEI



Saudade do tempo em que te amei...
Dos olhos mareados. Da respiração curta. Das descobertas a coração acelerado.
Saudade do tempo em que te amei...
Da clareza confusa com que me movia em seu terreno movediço. Das certezas contidas naquele amor insano.
Saudade do tempo em que te amei...
Do sofrer consciente. Da responsabilidade latente em todos os atos.
Saudade do tempo em que te amei...
Saudade de mim refletida em seus olhos...

REDESCOBRIR-SE


O primeiro dia das tão sonhadas férias! Passara o ano todo sonhando com dias livres... E agora que o sonho começava a tomar ares de realidade angustiava-se com o que fazer dele.
Rolara a manhã inteira na cama sem sono nem coragem para levantar, visto que não saberia o que fazer daquela bela manhã de primavera.
A fome lhe serviu de combustível. Cortar cebola, lavar a rúcula e o brócolis, cozinhar o arroz...  – abençoou o fato de ser natureba, o arroz integral demorava bem mais para ficar pronto! Naquele dia, descobriu o gosto de sua comida; tão vagarosa e compenetrada encarou a refeição!
E assim, nos dias subseqüentes, foram lhe sucedendo os acontecimentos: como se fossem os primeiros. Acabou chegando a conclusão que tinha sido loucura ficar tanto tempo sem comer carne diariamente e que não há nada melhor para redescobrir-se do q         ue as primeiras férias após uma separação . 

PASSADO Á MINHA PORTA


Estou viva. Tão viva que até nem sei. Não quero que isso acabe. Quero viver as últimas consequências. Quero o sangue das mordidas. Quero o olhar das entrelinhas. Quero a dor das partidas. Pois no gozo do encontro me entrego e ainda sou eu. Aquela que te olhou ao amanhecer do dia, quase menina, permanece em mim.
A caixa de pandora, presente seu, não cessa. Quase cega de tanta luz, vivo por instinto. Aquele fogo que acendemos à noite, para iluminar nossas palavras, ainda arde e tudo o que digo vem enfeitiçado de saber. Eu que sempre dele tudo quis... Temo e choro. Teço o amor e não amorteço.
Eu que já sonhei futuro, Não espero nada da vida. O instante já é o meu desejo. Amanhã eu não sei... Repito-me: MEU CORPO É MINHA ALMA!!! PERDOEM-ME OS QUE CRÊEM NA MALDADE DA SERPENTE, TENHO-LHE ENORME GRATIDÃO!
Parece madrugada. Pareço embriagada. Que dia é esse que me acorda? Que pulsa tanto, que me faz tremer? Temer? De jeito nenhum. Estou à beira do abismo. Eu que tenho vertigem. Fascinada com o perigo sigo adiante.




O EXERCICIO DIÁRIO



Exercitar a palavra. E como fazê-lo sem estar nas ruas , sem respirar o cheiro das multidões. Não se pode falar do que não se vê.. E eu o que vejo??? O calor dos motores dos carros; o playboy exibindo a sua máquina e escondendo seus medos, o religioso propagando os mandamentos de amor e fé que quase atropela o velhinho que anda com dificuldade. Vejo a mim mesma angustiada com o tempo , o sinal que não abre , a vida que não flui , o nó que não desata, o amor que não goza.    

SEREI MINHA FILHA


Amortecida pelos anos.
Cega pelos hábitos.
Amedrontada pelos novos abismos do não saber.
Fiz do meu corpo morada insensível, invisível, indizível.

E cá estou eu sangrando. Intermitente a vida lateja.
Até que meu útero doa.
Até que meus olhos vejam o sangue, meu sangue, perdido.
Até que eu pule, ainda que de olhos fechados.
Para que sejam abertos aos poucos e acostumem-se com a luz. Enxergando no princípio apenas as silhuetas para depois definir a carne.  

A primeira imagem é de uma criança. Não sei quem é. Talvez eu. Talvez o filho que não tive.
Eu filha de mim mesma. 

(Dependente. Submissa ao pequeno espaço a mim reservado nesse matriarcado. Espaço feminino, pequeno, tola, inútil.) em parenteses pois a fala não é minha

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

domingo, fevereiro 07, 2010

NA CORRENTEZA

Impulsionada pela impossibilidade
segue a correnteza do desejo,
suas águas levando para além o que já foi satisfeito...

O cigarro queimando no cinzeiro,
enquanto eu, esquecida de mim, observo seus movimentos lentos: o copo, a boca, a mão... Embriaga pelo cheiro sutil que exala do seu corpo, desconcentro-me e troco as palavras: pele, pelo, saio, seio, centro, dentro... Você ri, fingindo não saber o que se passa, mantém o jogo que tanto me excita... Impossibilidade que faz crescer a vontade. Vontade que me faz crer na quebra da censura imposta.

A noite te busco em outros rostos. Encontro em outros braços a intimidade que já não temos.