sexta-feira, julho 23, 2010

Já não há mais volta...
Meio termo.
Vez em quando.
Só um pouquinho.
Quero você até nosso amanhecer...

O nascimento de uma mulher

Enquanto aguardava que o sinal lhe permitisse atravessar a rua, pensava em como resolver as coisas. A vida se impunha e a obrigava a repensar posturas e escolhas.
Já caminhando, lhe vinham a mente as possibilidades de futuro: a compra da casa que sempre quis, a viagem, o trabalho que não a satisfazia mas que pagava suas contas...
Viver lhe parecia bem mais difícil do que havia imaginado com a sede própria da adolescência.
Sem perceber, sorrira olhando para o cachorro carregado por uma velhinha. A senhorinha sorriu satisfeita, o que lhe fez sair da grande esfera para pensar nos pequenos prazeres diários... O cheiro do amor no seu cabelo, o gosto amadeirado do vinho, o café nas manhãs de domingo, a risada compartilhada, os quilos a menos refletidos no espelho, a intimidade na conversa com amigos. Por um instante pareceu-lhe ter uma vida completa e feliz. Mas havia algo, um não sei quê, que a angustiava. Algo lhe doía, como se secretamente, enquanto dormia, as entranhas lhe crescessem, pressionando-lhe a carne.
Não era mais a mesma. Isso era inegável. Em vão tentava por palavras naquele buraco, no vazio que surgia. A recepcionistra lhe trouxe à tona:
- Tem horário marcado com quem? É só o corte de cabelo hoje?

quinta-feira, julho 22, 2010

Carne viva

... e lá vou eu! Sangrando o passado que ainda me define. Chorando as mazelas que me foram dadas de presente muito cedo, quando ainda não sabia escolher...

Abandono a velha casa e sigo sem o que me proteja das intempéries do tempo, da vida.. Recolho-me. Na carne viva  tudo me dói.

segunda-feira, julho 12, 2010

Aspectos de nós

Meu sol flerta com sua lua enquanto o seu sol triangula com a minha...
Minha lua se opõe ao meio do seu céu, já  a sua anda lado a lado a Mercúrio.
Já o seu Mercúrio dá as mãos a minha vênus, triangulando com Marte.
Ah, sim tem o misterioso pultão que do méu céu quadratura com a cabeça do seu dragão, assistindo o seu namoro  com meu saturno...

Nossas vênus se abraçam! Pareço feliz! 

quinta-feira, julho 08, 2010

Travessia de fantasmas

Levanto-me na tentativa de ver o que há mais à frente, mas a neblina cerrada oculta as margens do rio e as águas mais ao longe.

Soam os remos no rio e ecoam em minhas memórias:

Indiferença e solidão... E lá estou eu, pequena ainda, em meu quarto, remexendo meus brinquedos, tentando dar corpo e fazer “disso” que me dói e não posso entender uma fábula de bonecas, que me explique e me salve.
Um turbilhão de sentimentos que sem serem indiferença e solidão me tomam como se o fossem; desvios de olhares, beijos sem vontade, palavras rudes, falta de tempo...
Amores perpassados por essa verdade, fadados a caber nessa marca.

A travessia segue... Tento refazer o caminho, encontrar outros afluentes, desfazer os nós do novelo das imagens que me significam.
Não sei como seguir.

segunda-feira, julho 05, 2010

SONETO DO TEU CORPO

Juro beijar teu corpo sem descanso
Como quem sai sem rumo prá viagem.
Vou te cruzar sem mapa nem bagagem,
Quero inventar a estrada enquanto avanço.

Beijo teus pés, me perco entre teus dedos.
Luzes ao norte, pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus segredos.

Como em teus bosques. bebo nos teus rios.
Entre teus montes, vales escondidos.
Faço fogueiras, choro, canto e danço.

Línguas de lua varrem tua nuca.
Línguas de sol percorrem tuas ruas.
Juro beijar teu corpo sem descanso
(Leoni e Moska)

quinta-feira, julho 01, 2010

Uma agonia lenta e corrosiva.
Um gotejar ácido.
Uma insistência do tempo.
Um esmaecer da credibilidade.
Uma palavra impensada.
Uma agressividade sem foco.
Um rompimento sem sentido.
Um mantra sem fé.