segunda-feira, junho 29, 2009

Sonhar é realização de desejo

tua boca tão macia...teu desejo crescendo, crescente... sem medo, sem antes ou depois!

e eu tão assustada, encantada, apaixonada!

Cinderela às avessas perco tudo ao amanhecer.

domingo, junho 14, 2009

XEQUE

Do lado negro do tabuleiro...
Enquanto se arrumava pensava no cardápio da festa de sábado. Precisava pensar em algo maravilhoso; os convidados, ou melhor, a prima do seu marido reparava em tudo. E o pior, comentava depois.
“Essa blusa me deixa gorda”, pensou tirando a parte de cima da roupa. Na frente do espelho tentava lembrar de algo que ficasse bem com aquela saia.

Do lado branco do tabuleiro...
Inquieta, mexia–se na carteira. Algumas mães já haviam chegado e ela bem sabia dos problemas da sua com as horas...
Olhava intrigada a mãe de suas amiguinhas; muitas, sentadas nas carteiras, abrigavam no colo a pequena cria, outras se curvavam sobre os pequenos seres, ouvindo atentamente suas histórias mirabolantes.

Do lado negro do tabuleiro...
Precisava emagrecer, isso era certo! E o que faria no sábado? Já não lhe bastava a angústia de decidir o que fazer para o jantar? E agora isso... Quem sabe se amanhã de manhã pedisse uma daquelas receitas ao médico do regime... Não. Não dava tempo. Estaria gorda no sábado! Pensando isso, vestiu preguiçosamente uma camisa preta, que parecia combinar bem com aquela saia estampada.

Do lado branco do tabuleiro...
Está na hora. Onde estará ela? Por certo está chegando. Vai chegar a qualquer momento. A porta da sala abrindo lhe causa um sobressalto... Ainda não era a sua.

Do lado negro do tabuleiro...
Passando a mão direita sobre a sobrancelha, ela acende um cigarro, enquanto mentaliza o que pretende da base, do pó, do lápis, do batom e da sombra.

Do lado branco do tabuleiro...
Havia uma mãe perdida lá no pátio... Quase pode visualizar a sua; perdida, caminhando na quadra de vôlei, parando na frente dos banheiros, indecisa sobre subir ou não as escadas. Mas a professora lhe tira as esperanças: “sua mãe sabe onde fica a sala".

Do lado negro do tabuleiro...
Lombo com molho de pimentão! Melhor não arriscar, só a fama do prato lhe garantia alguma traquilidade. Isso mesmo, estava decidido!

Do lado branco do tabuleiro...
Não precisou olhar ao redor para perceber que estava só. Olhava fixo para as letras fixadas sobre o quadro negro, aquelas que lhe marcariam o caminho com as palavras. Tentava ainda acreditar que ela estava subindo as escadas...
A professora, sem noção do abismo que se abria em seu mundo, ordenou que se mantivesse ali, e apresentasse o número ensaiado para uma mãe fictícia... Uma mãe que estivesse ali.

Do lado negro do tabuleiro...
O delineador do olho esquerdo... Estava pronta. Uma última olhada. “Meu Deus e a sobremesa?”

Do lado branco do tabuleiro...
Olhando para o nada, repetiu, sem entender o que dizia, a canção ensaiada. Cantou até o fim... Enquanto as outras crianças sassaricavam na frente de suas mães, abraçando-as pediu para ir ao banheiro.E agora sim, chorou.

Do lado negro do tabuleiro...
Apagou o cigarro no cinzeiro e bateu a porta do banheiro atrás de si.

segunda-feira, junho 01, 2009

...da vida

Um cachorro cego atravessa a rua.
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O trapezista se preapara para seu jogo, sem rede.

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Não há ninguém com eles no momento em que se lançam às suas jornadas.
Fora os carros passam velozes, transeuntes comentam a chuva da madrugada anterior... o público farfalha respiração, conversas e papel de bala.