quinta-feira, maio 12, 2005

O PESO DA ANCESTRALIDADE


Enquanto todos dormem
aqui estou...


Venho do tormento de ser mulher nascida em família de pai Árabe e mãe submissa.
Vim para ocupar um pequeno lugar,
Um intervalo entre o trabalho e o prazer.

Desapontando a todos, não fui capaz de caber ali...
Expliquei a meu pai que todo ouro transformaria em prazeres,
À minha mãe, que sentia muito mas precisava ver além dos limites impostos pelos seus dogmas.

quarta-feira, maio 11, 2005

O FIO DE MINHA LOUCURA

O meu grande amor?...
Fio da loucura
Minotauro jamais encontrando Ariadne,

O Impossível
Repetidamente impossível

Desejo que encontra saciedade
no não saciar

domingo, maio 08, 2005

UM DIA UM CÃO


Não tenho jeito com as palavras. Elas deslizam pelos significantes, velam-se em desejos...
Sim , em sonhos elas me aparecem- como fantasmas que retornam à antiga casa. Propõe-me seus enigmas, e quando acordo , tento - em vão - decifrar-lhe as cifras; dividas pendentes , máscaras , rostos aparentemente esquecidos.
A palavra me exige...
O corpo reage; uma intensa vontade de vomitar.
Mas a palavra não vem. Na verdade tenho medo do que possa vir a dizer. Confesso: um minuto a mais e eu teria dito tudo.
Meu cachorro acorda; caminha lentamente , ainda preguiçoso ergue-se e escora-se em minhas pernas, com um brilho nos olhinhos cães me diz bom dia. Será que ele também sonha?? As vezes enquanto dorme eu o observo; mexe-se e rosna , soltando latidos roucos. Talvez algum intruso , que ele ferozmente, expulsa.
Mas isso é o que eu digo... Cachorros não têm palavras. E ao colocá-las em sua boca faço dele a minha sombra.
Um intruso? Talvez exista. Um intruso é sempre uma ameaça.
Talvez seja Prometeu , acenando-me o fogo do saber...

JOGOS

Sentava-me à mesa com você quando pequena e sobre o pano verde explicava-me nas cartas as regras do jogo.
Jogávamos as duas, e se deixava-me ganhar era apenas para que eu soubesse porque se joga. Assim, em horas de infância, aprendi a espera árdua das seqüências, o encanto fugaz de cartas repetidas e os disfarces do desejo.
Foi a visão do mistério que me levou para além daquela mesa. O imponderável, neste caso a sorte, foi o fim das horas de infância.
Sem querer aceitar a falta de matemática do jogo, perdi e me perdi muitas vezes jogando em outras mesas. E perderia sempre, se sua dor calada não me tivesse gritado que é esse o grande encanto: há algo mais do que a lógica, é a correnteza do mistério que carrega a leveza do desejo.

DE PASSAGEM

Acordo sem vontade de fazê-lo.

Melhor seria passar os dias dormirndo
Passar, sem que eles me atravessem
Passar em ausência.
Pois viver os dias me obriga a saber de mim
de onde e por que vim.