domingo, maio 08, 2005

UM DIA UM CÃO


Não tenho jeito com as palavras. Elas deslizam pelos significantes, velam-se em desejos...
Sim , em sonhos elas me aparecem- como fantasmas que retornam à antiga casa. Propõe-me seus enigmas, e quando acordo , tento - em vão - decifrar-lhe as cifras; dividas pendentes , máscaras , rostos aparentemente esquecidos.
A palavra me exige...
O corpo reage; uma intensa vontade de vomitar.
Mas a palavra não vem. Na verdade tenho medo do que possa vir a dizer. Confesso: um minuto a mais e eu teria dito tudo.
Meu cachorro acorda; caminha lentamente , ainda preguiçoso ergue-se e escora-se em minhas pernas, com um brilho nos olhinhos cães me diz bom dia. Será que ele também sonha?? As vezes enquanto dorme eu o observo; mexe-se e rosna , soltando latidos roucos. Talvez algum intruso , que ele ferozmente, expulsa.
Mas isso é o que eu digo... Cachorros não têm palavras. E ao colocá-las em sua boca faço dele a minha sombra.
Um intruso? Talvez exista. Um intruso é sempre uma ameaça.
Talvez seja Prometeu , acenando-me o fogo do saber...

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