segunda-feira, dezembro 13, 2010

Vícios Antigos

Viciada no labirinto de palavras, nos arroubos sem razão, na vaidade daquele amor;
relia as cartas diariamente,  sem entender.
Era quase uma obsessão.
Paulo, seu marido, já começava a irritar-se com os devanios da mulher sobre as folhas de papel.
E ela agoniada esperava que ele saisse para poder entregar-se às metonimias, aliterações, catacreses, metáforas e hipérboles - que coloriam o que lhe ia por dentro.
Sim porque lhe ia algo por dentro. Algo escondido. Um rio submerso. Caudaloso. Uma correnteza estagnada pela razão, pelo medo e por uma certeza cega de que estava fadada ao logro, a má sorte.

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